terça-feira, 15 de agosto de 2006

DOM FRAGOSO, UM PROFETA

Postamos agora artigo de F. Nóbrega, do jornal Correio da Paraíba, sobre o teixeirense Dom Fragoso.
F. Pereira Nóbrega
Fragoso
Entre nós, sábado passado, morreu um profeta. Não o chamo com os nomes próprios das dignidades eclesiais: Reverendo, Excelência, Dom. Esse bispo falecido, deixem-me chamá-lo apenas de Fragoso.
Foi pobre por opção, entre os que foram sem escolher. Nas suas exéquias, não faltaram pobres de Crateús onde ele foi bispo. Nem faltaram impressionantes testemunhos dos simples a seu respeito. Foi um dos fundadores da JOC no Brasil e carregou até o fim a semelhança aos pobres. Por vez, já bispo, seu transporte foi o primeiro caminhão que passava. E se o pneu furava, ele ajudava o motorista no conserto.
Resistiu à ditadura militar. Correu risco de ser preso. A seu favor, se chegou a pedir habeuas corpus preventivo. Um núcleo do Exército, sediado em Crateús, onde era bispo, tinha também a missão de vigiar os passos e palavras desse convicto amigo dos pobres. A ditadura militar tinha por comunista quem fosse asism. O coronel do Exército daquela Guarnição, em colóquio com o bispo, virou a cabeça. Foi mais cristão que cooperador de ditadura. Foi transferido e punido.
Seu lema, de bispo e de vida, foi destinar-se sobretudo "às ovelhas perdidas." Pastoral-mente, foi homem de fronteira, agindo onde a Igreja termina e começam os indiferentes, ovelhas perdidas, adversários.
Um dia, telefonou-me, se dizendo radiante com o trabalho de Catecumenato que empreendemos, porque o via como lugar de fronteira, onde a Igreja termina e começa o diálogo com os demais.
Foi homem do ecumenismo e do fraterno diálogo com igrejas dissidentes. Por isso, em seu sepultamento, não faltou pastor evangélico que também pediu a palavra.
Fez-se culminante na Igreja do Nordeste. Imitou o Jabre, pico culminante da Paraíba, a cuja sombra, em Teixeira, nasceu. Cardijn, cardeal belga, mais de uma vez, em pública, na Europa, se referiu à grandiosidade de Fragoso, quando, no Brasil, ainda era apenas padre.
Foi homem ecumênico, dos pobres e da fronteira, menos voltado para as sacristias, mais para "as ovelhas perdidas" da fé. Tudo o que o Vaticano II diria depois, ele já vivia antes. E vivia sem o jeito das dignidades eclesiais de seu tempo, mais parecendo um homem da Igreja primitiva. Não foi o Concílio quem fez sua cabeça. Foi sua cabeça quem ajudou a fazer o Concílio. Foi um profeta.

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