quarta-feira, 31 de maio de 2006

O QUE É... COISA COM COISA

O texto postado agora é de Max Gehringer consultor de empresas e palestrante. Max já escreveu para as revistas VOCÊ S/A e EXAME, agora os seus artigos são publicados, semanalmente, na revista ÉPOCA, da editora GLOBO. O texto abaixo foi publicado na revista VOCÊ S/A, só não lembro a edição. Boa leitura.
Quer fazer a coisa certa? Então trate de entender como a coisa funciona
Por Max Gehringer
Se tem uma coisa que anda incomodando a língua portuguesa, é a coisa. O único consolo é que "coisa" é uma dessas raríssimas palavras que existem em qualquer idioma, e em todos eles têm o mesmo significado, isto é, coisa.
No princípio Deus criou as coisas, ensina o Gênesis, para só depois criar o Homem. Quer dizer, geneticamente falando, que tudo que não era gente era coisa. Isso durou até 1963, quando finalmente o poeta Vinicius de Moraes decidiu elevar também o ser humano à categoria de coisa: "Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça..." A bem da verdade, nenhum grande escritor resistiu à coisa, e o próprio Shakespeare notou que existem muito mais delas entre o céu e a Terra do que sonha a nossa vã filosofia.
Mas o que antigamente era um artifício poético e literário acabou virando arroz-de-festa. Tem até lugar onde a coisa passou a ser flexionada ("O coiso, como é mesmo o nome dele?") ou conjugada ("Eu estava coisando quando a máquina pifou"). Ou por preguiça ou por economia de neurônio, as pessoas passaram a abusar da coisa: por que aprender a falar empregabilidade se é bem mais fácil dizer "aquela coisa que eu não tinha e por isso perdi o emprego"? Nas empresas, a coisa já se tornou um sinônimo bastardo para qualquer coisa:
- Quer saber de uma coisa? Pra mim chega. - Chega do quê? - Cansei. E uma coisa eu digo: não sou só eu. - Peraí, me explica melhor. - Explicar o quê? Vai me dizer que você é a favor desse estado de coisas? - Sei lá. Você nem me disse ainda o que está acontecendo. - Acorda, cara! A coisa tá preta nessa empresa. - Taí, eu não acho. - Como, não acha? Isso aqui é coisa de doido. - E digo mais. Prá mim, tá tudo ótimo. - Opa, até você? Eu bem que desconfiava. Aí tem coisa...
Convenhamos: a coisa já passou do ponto, e esse é o âmago da questão. Ao mesmo tempo que estão adquirindo fluência em inglês e em outros idiomas alienígenas, muitos profissionais insistem em espezinhar o português escorreito. A proliferação indiscriminada da coisa é um bom exemplo disso. Nas empresas, a hiperespontaneidade na comunicação está roubando aos diálogos a consistência e a praticidade. Mas a boa linguagem corporativa jamais admitirá tais atalhos verbais. Quem realmente busca a excelência em todas as suas dimensões tem por obrigação permear-se com um vocabulário eclético e dinâmico. O tempo ensinará aos despreparados que o sucesso só premia os que sabem administrá-lo multifacetadamente, e isso inclui o repúdio ao uso do palavreado fácil e o respeito ao vernáculo. Apenas após dominar as nuances de sua língua pátria é que alguém poderá alardear que atingiu a plenitude profissional. Porque só aí terá compreendido e absorvido os três pilares básicos em que se apóia a essência da filosofia corporativa, a saber:
• Entender como a coisa funciona.
• Fazer a coisa certa.
• Falar coisa com coisa.

2 comentários:

Anônimo disse...

Encantos x progresso

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30.05.2006 | São onze horas de sábado e eu estou diante do ponto mais oriental das Américas – aquele de onde, se eu me lançar ao mar e seguir em linha reta, chegarei à África, se alguém não me acudir na segunda braçada. Trata-se de Cabo Branco, em João Pessoa, na Paraíba, uma das partes mais cobiçadas pelos exploradores e corsários até mesmo antes da Descoberta. “A terra é a mais liberal de todas do mundo”, escreveu em “Diálogos das Grandezas do Brasil” um coleguinha cronista ultramarino que esteve por aqui uns quatro séculos antes de mim, um tal de Ambrósio Fernandes Brandão.

Não sei se é porque sou de um país que não tem História – ou melhor, tem mas não a cultiva – toda vez que me encontro em algum sítio histórico como esse fico tocado por um compreensível sentimento do passado. Senti a mesma coisa quando há anos conheci o ponto mais ocidental da Europa, o Cabo das Rocas, em Portugal, de onde eu poderia mergulhar e sair nos EUA, e quando avistei o Cabo da Boa Esperança, lá no extremo sul da África, o ex-Cabo das Tormentas. Não tive como não me lembrar do episódio do Gigante Adamastor dos Lusíadas.

Por serem postos avançados, o assédio dos invasores em geral começa por eles. Em frente a este diante do qual estou agora travaram-se memoráveis batalhas marítimas contra os invasores holandeses, se é que aprendi direito a aula que me dá um de meus cicerones, grande conhecedor da história local. Ele fala com entusiasmo da chamada “pequenina e heróica” Paraíba, que é mesmo tinhosa: além de participar de várias guerras libertárias, teve que sobreviver enfrentando a seca que sempre rondou grande parte de seu exíguo território.

Além dos exemplos passados, a Paraíba viveu dois momentos decisivos na história política contemporânea, quando João Pessoa transformou-se no mártir da Revolução de 30 e quando José Américo – o escritor que inaugurou o romance regionalista, com “A bagaceira” – rompeu a censura em 1945, na ditadura de Vargas, com uma corajosa entrevista a Carlos Lacerda que ajudou a derrubar o ditador.

Falta à Paraíba um bom esquema de marketing. Ela tem atrativos que a gente acha que só encontra em outras paragens nordestinas – belas praias, rico folclore, artesanato. Só que não se sabe. Eu, por exemplo, desconhecia que a Igreja de São Francisco era “a mais linda do Brasil”, na opinião de Mário de Andrade. Pude ver a fachada, realmente uma jóia do barroco tropical. Mas não por dentro porque ela fica fechada de meio-dia às 14h. Como pode atrair visitantes uma cidade que fecha suas igrejas na hora do almoço de um sábado? O resultado é que o movimento turístico em Natal, Fortaleza, Recife é de dar inveja à pequena João Pessoa, com sérias repercussões em sua pobre economia.

Por outro lado, isso é bom. Como não é um pólo de atração, a cidade conserva-se mais ou menos livre de pragas como a prostituição infantil. Soube que existe, mas não na escala das capitais vizinhas. Não vi na orla e nem nos hotéis o mesmo espetáculo deprimente.

Trânsito tranqüilo, violência sob controle, pouco estresse, possibilidade de morar em casas com segurança (uma bendita legislação impede edifícios nas praias acima de quatro andares) e um mar que não tem tamanho tornam João Pessoa uma cidade com ares de província, o que talvez seja o seu grande charme. O problema é como conciliar progresso com a preservação desses encantos.




zuenir@nominimo.ibest.com.br

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Anônimo disse...

Força Estranha – Roberto Carlos

O tempo não para e, no entanto ele nunca envelhece.
Aquele que conhece o jogo
O fogo das coisas que são
É o sol, é o tempo, é a estrada, é o pé é a mão.
Eu vi muitos homens brigando ouvi seus gritos
Estive no fundo de cada vontade encoberta
E A COISA MAIS CERTA DE TODAS AS COISAS
Não vale um caminho sob o sol
E o sol sobre a estrada, é o sol sobre a estrada é o sol.
Por isso uma força me leva a cantar
Por isso essa força estranha no ar
Por isso é que eu canto
Não posso parar
Por isso essa voz tamanha.

Abraços,