quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

ZÉ LIMEIRA NO BLOG DO NOBLAT

Do Blog do Noblat no dia 09 de janeiro de 2007.

Poema da noite

Zé Limeira (1886-1954)

Ela parece um limão
Rodeado de cebola,
Uma goiabeira verde
Enfeitada de ceroula,
Com dentadura de pau
Eu elogiá-la vô-la.

Eu só gosto dessa moça
Porque tem vegetação,
Porteira de pau-a-pique,
Três pneu de caminhão,
Rabo de jumenta russa
E haja chuva no sertão.

Eu sou açude corrente
Dentro da mata bravia,
Gramática azul, beiçuda,
Queijo de leite de jia,
Rincho de burra cardan
E haja festa na Bahia.

Um dia eu tava acordado,
No mais rancoroso sono,
Passou uma cobra azul
Falando num microfone,
E um mudo gritando em baixo:
— Vim buscar o meu abono!

Sou casado e bem casado,
Com quem, não digo com quem.
A muié ainda é viva,
Mas morreu, mora no Além.
Se um dia voltar à terra
Vai morar no pé da serra,
Não casa mais com ninguém.

Casemo no ano de quinze, Na seca de vinte e três;
A muié era donzela,
Viuva de sete mês,
Mais não me alembro que tenha
Um dia ficado prenha,
Estado de gravidez.


Zé Limeira, conhecido pelo o Poeta do Absurdo, nasceu no sitio Taua no ano de 1886 e faleceu no ano de 1954. A cidade onde nasceu , Teixeira, estado da Paraíba, foi o principal reduto de repentistas no século XIX e onde a viola teria sido usada pela primeira como instrumento de cantoria lá pelos idos de 1840.

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